terça-feira, 21 de outubro de 2008

Uma vida pela audiência

Dia 15 de outubro de 2008. Era quase 19 horas quando entrou no ar o programa SP Record. Seu apresentador anunciava, de forma insistente, que tinha com exclusividade, uma entrevista com Lindemberg, o rapaz que mantinha refém a ex-namorada. Há 53 horas o rapaz havia entrado no apartamento da família da namorada e a feita refém.

O seqüestrador demonstrou por várias vezes está inseguro com respeito a sua integridade física, incerto quanto aos seus objetivos e, o pior, demonstrou agressividade ao atirar contra policiais e jornalistas que se encontravam nos arredores do prédio em Santo André.

Diante do quadro de incerteza e perigo ficam algumas perguntas: o que faz um “jornalista” querer conversar com um seqüestrador nessa situação? Os produtores daquele programa entraram em contato com a polícia para saber se deveriam fazer esse contato? Se isso aconteceu, qual foi a postura da polícia? Será que a equipe do SP Record se imaginou no lugar da família, vendo “amadores” fazerem o trabalho que cabe a profissionais da psicologia?

O fato deixa explícitas as manobras que as emissoras têm feito para vencer a “guerra” pela audiência e conseguir o furo jornalístico. Nesse caso percebe-se que para alguns, a TV pode ser como uma mesa de cassino: − eu aposto duas vidas. Você aposta a audiência?

Em meio a confusão de valores destaca-se José Datena, por ter colocado em prática o que prega a Federação Nacional dos Jornalistas.

O Código de Ética do Jornalistas Brasileiros diz que:
Art. 6° - É dever do jornalista:
VI – não colocar em risco a integridade das fontes e dos profissionais com quem trabalha;

Art. 7° - O jornalista não pode:
IV – expor pessoas ameaçadas, exploradas ou sob risco de vida, sendo vedada a sua identificação, mesmo que parcial, pela voz, traços físicos, indicação de locais de trabalho ou residência, ou quaisquer outros sinais.

O apresentador da Bandeirantes disse, de forma enfática, que não vale tudo para ter uma grande audiência. Segundo ele, produtores do seu programa ofertaram uma conversa com o seqüestrador, mas a oferta foi recusada por Datena.

Analisando o contexto, o ato de Datena até parece heroísmo. Entretanto, ele fez apenas, o que um verdadeiro jornalista faria naquele momento: respeitar a vida, ou melhor, as vidas que estavam em risco naquele momento.

Depois do final trágico que as emissoras pareciam querer, fica o questionamento: porque ninguém admite que pode ter sido influente no desfecho do caso? Ora, se a polícia erra nas negociações, a polícia tem culpa. E se “jornalistas” fazem esse papel, não deveriam também ter culpa? Quanta hipocrisia.

domingo, 7 de setembro de 2008

Um Recorte do Cenário Mundial

As Olimpíadas de Pequim serviram para que possamos enxergar com maior clareza algumas realidades mundiais:

1° Os Estados Unidos estão cada vez mais enfraquecidos. Na economia o dólar perdeu espaço para o euro. Politicamente, o respaldo norte-americano sofre os reflexos das guerras do Afeganistão e Iraque. Para completar, os chineses ganharam mais ouros nas olimpíadas do que os filhos do “Tio Sam”. Restou aos norte-americanos, modificar a forma de classificação no quadro de medalhas. Afinal, cada um analisa como quiser.

2° A realização do maior evento esportivo do mundo aliado ao desenvolvimento alcançado nos últimos anos, vão servir para desviar o foco dos problemas vividos pela China – desigualdades sociais, exploração de mão-de-obra barata, poluição das cidades. Mas afinal, em que lugar do mundo não existem problemas?

3° Enquanto as dificuldades sócio-econômicas da África não são sanadas com o mesmo “desenvolvimento” ocorrido na China, os atletas africanos vão se “virando” como podem, vencendo provas de resistência. Pois é, de resistência eles entendem. Eles sabem o sentido literal dessa palavra, ou seria apenas mais um estereótipo midiático?

4° Por fim, o Brasil. Ah, o nosso o Brasil. Viva as mulheres. Mas, eis a questão: elas conquistaram mais espaço ou os homens deixaram de ocupar os lugares no pódio? De qualquer forma ganha visibilidade aquele velho “pitaco” do Galvão Bueno “é preciso investir em esporte”. Você já ouviu isso antes, não é? Talvez os investimento devessem ser pensados inspirados no talento, dedicação, esforço e raça das meninas de ouro, que conquistaram a prata no futebol. Talvez assim, na próxima edição das olimpíadas nós teremos um sorriso mais dourado. Enquanto isso, ficamos nos perguntado mais uma vez: onde erramos?